por Luiz Henrique Matos
Decepcionado. Foi assim que me achei diante da frase que transcrevia a última declaração do Vaticano. Tanto fiquei que procurei pela notícia nas páginas da BBC para testificar que, de fato, foi divulgada uma nota oficial. Um dos trechos (o principal) afirma que:
“Cristo constituiu sobre a terra uma única Igreja e instituiu-a como grupo visível e comunidade espiritual, que desde a sua origem e no curso da história sempre existe e existirá”. “Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele.”
Faz pouco tempo que deixei de ser católico, nalgum instante entre 2001 e 2002, quando me converti ao protestantismo. Afora o fundamental fato de que isso me levou a um relacionamento mais próximo de Deus, vi e vejo falhas de igual tamanho e proporção. São os podres frutos da religiosidade, coisa tão demasiada e controversamente humana.
Mas apesar de não tê-lo como meu líder espiritual, confesso que me desapontei com Joseph Ratzinger. Pois foi dele mesmo que, há pouco tempo, ouvi num português agringolado a frase que vinha me inspirando boas idéias para redigir outra mensagem. Sua percepção se baseava num argumento que concordo e busco.
“O mundo precisa de vidas limpas, de almas claras, de inteligências simples que rejeitem ser consideradas criaturas objeto de prazer”.
Não que esse argumento destoe da frase da última semana, eles sequer tem relação. Mas ao ouvir aquilo, senti uma proximidade de interesses, encontrei um ideal fundamentado nas Escrituras, que ultrapassa qualquer princípio denominacional. Acreditei estar menos distante o dia em que os diferentes grupos cristãos perceberiam que, afinal, uma essência nos une e que todas as diferenças não são absurdamente opostas a ponto de nos tornar inimigos.
Mas, pobre de mim que sonho tais bobagens.
O documento de Roma só mostra quão imaturos estamos ao concentrar esforços em idéias tão pequenas. De fato, não posso acusar só um dos lados. Vejo meus colegas protestantes perseguirem o catolicismo como não se faz com o diabo. Enquanto os dois lados se atacam, o diabo ri dessa tolice toda, vendo seu trabalho terceirizado.
E quem é cristão, afinal? Não o somos todos? Ou nenhum de nós é? Lembro da história contada por Lucas, no livro de Atos, no momento em que Barnabé e alguns outros chegam a cidade de Antioquia e aquele povo, ao ver suas características e atitudes tão semelhantes às de Cristo, passam a chamá-los “cristãos” (pequenos cristos).
E hoje, espelhamos algo cristão ao tomar tais atitudes? Na verdade, diminuímos o Reino com nossas vaidades. Como diria um irmão: “apequenamos Deus”. Cristo é maior do que o papa católico, as denominações protestantes ou qualquer opinião empoeirada dos ortodoxos.
Eu, bem, sou mesmo um bocó. Mas assumo. Sim, sou dos tolos que se emocionam ao ler a sagrada passagem do Evangelho de João, fazendo coro com Jesus em sua oração derradeira e sonhando testemunhar o dia em que se cumprirá seu único pedido ainda não realizado:
“Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um: eu neles e tu em mim. Que eles sejam levados à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me enviaste, e os amaste como igualmente me amaste. (João 17: 20-23).
Que assim seja (amém).