por Luiz Henrique Matos
Eram seis da tarde. A reunião de culto começava com ameaça de chuva. Os primeiros acordes já saltavam pelas caixas, embalados seqüencialmente pela guitarra, violão, teclado, bateria, percussão, contrabaixo, vozes. Música.
Como todo domingo, as luzes daquele galpão de fábrica transformado em igreja foram se apagando, as mãos de quase duas mil pessoas iam se levantando e, em alto som, as vozes de um grande coral cantavam elogios ao bom Deus. Eu estava lá, de olhos fechados, mente aberta, coração entregue.
E foi num segundo, entre uma frase e outra que “pufff…”, apagão! Centenas de olhares de interrogação foram dirigidos ao palco. Tudo escuro, tudo em silêncio. Acabou a energia no bairro.
A equipe da música não se deixou intimidar. O vocalista marcou o compasso nas palmas e começou a cantar sem o microfone. Aos poucos o som foi crescendo, as palmas entrando no ritmo, da frente para o fundo do salão as vozes foram-se somando e a música seguiu. Sem instrumentos, sem microfones, as canções do repertório foram improvisadas.
Alguém ao lado pode não ter gostado. Uma senhorinha mais atrás começou a fazer uma oração em voz muito alta. Eu achei tudo aquilo ótimo. Uma massa de vozes fugindo da inércia que uma liturgia padronizada produz. Sem automatismos. Éramos um grande coral desafinado, mas finalmente muito sincero.
A energia voltou duas músicas mais tarde. Tudo correu normalmente para o fim das canções, o momento dos recados, recolhimento de ofertas e o início do sermão. E foi ali mesmo, no meio da mensagem, enquanto o pastor pregava sobre um tema tão marcante, que a escuridão voltou.
Bem – eu pensei – não vai dar para fazer um coral agora. E fiquei imaginando qual seria a decisão daquela liderança. E me senti grato ao ouvir aquele homem gritando, pedindo a todos que fizessem o máximo de silêncio possível porque a mensagem seria pregada até o fim.
E assim foi, sem luz, sem microfones, sem anotações, sem telões ou recursos áudios-visuais. Uma multidão em silêncio, atenta a cada palavra, concentrada no significado da mensagem, nos textos, nos tópicos. No fim, todos reunidos em silêncio, de mãos dadas para uma oração conjunta.
Fui pra casa imaginando como não era nos tempos antigos. Pensei em Jesus, que pregava assim para tanta gente, todos os dias, nos caminhos da Terra Santa. Pensei nas cordas vocais do nosso pastor e que ele deveria estar precisando de uma pastilha Valda.
Eu acho mesmo que às vezes é muito bom voltar à simplicidade. Somos bombardeados por informação de todos os lados, a todo instante. E deixar de lado os recursos tecnológicos e novas mídias de apoio ajuda a ter um único foco em alguns momentos.
Naquela noite, tínhamos à frente somente a escuridão e foi bom, bom demais, perceber o silêncio quase soberano ser rasgado por uma voz exaltada anunciando a única verdade fundamentalmente necessária: Jesus Cristo, o Senhor.
Obrigado aos meus irmãos da Comunidade Carisma, por não desistirem de alimentar esse rebanho faminto.
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