A construção das Escrituras


 

Uma citação de Borges:

Clássico é aquele livro que uma nação ou um grupo de nações ou o extenso tempo decidiram ler como se em suas páginas tudo fosse deliberado, fatal, profundo como o cosmos e capaz de interpretações sem fim. Não é, repito, uma obra que possui estes ou aqueles méritos; é um livro que as gerações dos homens, impelidas por diversas razões, lêem com prévio fervor e com misteriosa lealdade.
Jorge Luis Borges, Sobre os clássicos (1952)

E segue, o comentário do Paulo Brabo em sua Bacia das Almas. Um texto sobre a construção literária da Bíblia e as referências e interpretações cruzadas nos livros que compõem as Escrituras.

Mesmo os que asseguram que a Bíblia tem um único autor não negarão o fato de que o livro não foi escrito de uma única sentada. Fica claro que, em muitos sentidos, a composição do livro foi um processo, uma longa agonia em que o responsável por cada pequena porção deixou uma contribuição que, na maior parte das vezes, procurava não ignorar o que já havia sido dito. Os estatutos legais deitados nos livros de Êxodo e Levítico, por exemplo, são retabulados e expandidos, com diferentes ênfases, em Deuterônomio; as mesmas leis são interpretadas de maneira inusitada, mas não totalmente arbitrária, pelos profetas – mil páginas ou anos depois. A isso, que os teólogos chamam de revelação progressiva, alguns estudiosos do mesmo texto vêem como evidência de um longo processo de transmissão, adaptação e reutilização de um grupo central de tradições.

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