É proibido pensar?


Por Luiz Henrique Matos

No começo, tudo parecia interessante. Embrenhei-me na leitura e sentei atendo às novas vozes que entoavam sua crítica endereçada a uma parte da igreja que, mercantilista, pasteurizou o evangelho. Surgia um contraponto ao velho discurso evangélico massificado na mídia.

Eu gostei de tudo isso. Parecia um eco do que dizia meu coração. Era equilíbrio num pensamento adequado, humano, cheio de essência bíblica.

E surgiram novos pensadores no meio da igreja. Gente intelectual, de ouvido atento e voz ácida contra os que pregam heresias. Gente empenhada em preservar a verdade das Escrituras. Gente finalmente mais preocupada, mais preocupada com… com o quê mesmo?

Com o tempo (pouco tempo) a crítica construtiva deu lugar a uma voz de combate. E líderes cristãos passaram a tomar posição numa batalha ideológica.

Serei sincero, não sei ainda o que pensar a respeito desse tipo de manifestação. Tenho minhas inquietações e indignações com alguns comportamentos que observo na igreja. Às vezes tenho vontade de entoar esse mesmo discurso e virar as mesas dos que fazem comércio no templo, tal como nosso mestre naqueles dias em Jerusalém. Às vezes até viro.

Mas depois, feita a obra, vejo que ainda assim a dor não passa, percebo que a cura não vem pela explosão impetuosa. Noto uma vez mais que só pela graça, o amor, a cruz é que ocorrem transformações. Em Deus. Percebo, afinal de contas, que não importa tanto o que eu digo ou escrevo, mas vale sim o que eu faço, o exemplo que dou, as pessoas que formo. São mais que palavras.

Ao vociferar uma crítica, tenho medo que minha opinião fique restrita a isso: mera opinião. Tenho medo de julgar, de filtrar o que entendo como lei e condenar os outros baseado no simplismo de minhas interpretações, sem pensar com o coração de Deus. E tenho medo também de apontar o dedo ante os olhos dos outros sem enxergar a sujeira que eu mesmo produzo. Também peco. Talvez não os mesmos erros desses “cambistas”, mas peco com outras tantas e iguais falhas.

Acredito que a auto-reflexão na igreja é positiva e necessária. Mas prezo pela atitude sábia, pela ponderação construtiva dos que respeitam a liberdade e resgatam a essência das boas novas que pregamos. Sem batalhas particulares, sem combates contra “carne ou sangue” como nos ensinou o apóstolo, sem levantes que tentam separar o joio do trigo antes da hora. Não existe guerra santa.

“O conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica.” (Paulo, na primeira carta ao Coríntios, capítulo 8, verso 1).

Por isso, opto por não dar nomes aos bois. Já o fiz e me arrependi. Pobres dos bois. Hoje, prefiro exaltar as boas obras dos que ajudam a construir dignamente o Reino. Faço minha escolha baseado no amor que promove a paz. Decido meu caminho pensando nas pessoas, vidas, que acabam ignoradas quando nossos olhos se voltam exclusivamente para ideais.

Precisamos ser um. Respeitando as diferenças. Vivendo em Jesus Cristo, como Ele, que viveu e morreu por todos. Todos.

“A maior carência do nosso tempo é por uma igreja que se torne o que a igreja raramente tem sido: o corpo de Cristo com o rosto voltado para o mundo, amando aos outros independentemente de religião ou cultura, derramando-se numa vida de serviço, oferecendo esperança a um mundo aterrorizado e apresentando-se como alternativa genuína ao que se passa hoje.” (Brennan Manning).

 

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4 comentários sobre “É proibido pensar?

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