Sobre igrejas e fogueiras


Por Luiz Henrique Matos

Eu realmente acredito que alguns cristãos lançariam outras pessoas em fogueiras se isso fosse algo lícito nos nossos dias.

Parece um tanto absurdo de se imaginar, mas acho que nós só não praticamos atrocidades como essa porque olhamos para o passado e julgamos os atos de nossos tataravós a partir dos valores e regras que temos hoje. Naquele tempo isso não era uma atrocidade, tal como um dia também não foi ter escravos, apedrejar e crucificar pessoas, invadir territórios ou eliminar etnias inteiras simplesmente para dominar alguns alqueires de terras.

Eu acho que eu mesmo jogaria algumas pessoas na fogueira – às vezes chego a imaginar que até sei quais seriam…

É, eu sei, isso é um absurdo. Odeio saber que eu poderia agir assim. É mais fácil julgar os erros dos outros. Mas não acho que faça algo diferente hoje. Se em pleno século XXI me soa repugnante o fato de alguém se achar no direito de queimar outra pessoa viva simplesmente porque ela tem idéias diferentes das suas, é porque num dado momento a sociedade se deu conta de quão insensato aquilo era e resolveu tomar uma atitude digna a respeito.

E penso ainda que a sociedade ainda não se deu conta de muitos absurdos. Talvez, no futuro, nossos descendentes julguem como maior dos crimes o fato de que um dia o homem foi capaz de permitir que seu semelhante fosse condenado a condições sub-humanas, sem direito a itens essenciais para sua sobrevivência, tais como um prato de comida, água limpa e educação básica. Pode até ser que estudem, indignados, sobre milhões e milhões de pessoas que foram queimadas vivas pelo fogo da indiferença, da injustiça, da ganância e de tantos atos repugnantes dessa nossa época, diante de uma platéia que se pôs sentada em confortáveis sofás e assistiu aos sacrifícios a partir de seus televisores ou computadores. Sem fazer nada a respeito.

É possível que as gerações futuras olhem para os nossos dias e se perguntem o que tinham em mente os primatas deste século que, se dizendo servos de Jesus Cristo e seguidores da verdade amorosa pela qual ele morreu, ignoraram tantas mazelas e doenças e se calaram diante de crimes tão abusivos.

O que Jesus faria? Fico tentando pensar que males ele curaria nesses dias. Tento imaginar para que multidão olharia com íntima compaixão, que tipo de gente chamaria para segui-lo, que bancas de comércio viraria no templo e a que tipo de homens chamaria de hipócritas, deturpadores da palavra de seu Pai.

Perguntamos coisas a Deus, mas filtramos as respostas. Ignoramos a sua voz.

E sua voz clama por aqueles que sofrem com os males do nosso tempo. E é duro demais observar que as dores da humanidade são os frutos podres de seus próprios atos. Não adianta culpar o diabo, nós é que fugimos da Verdade. E precisamos mudar o rumo dessas escolhas.

Bem, você pode me perguntar o que eu faço a respeito disso tudo. Eu, sentado aqui num sofá bem confortável, não preciso pensar dois segundos: eu acho que jogo algumas pessoas na fogueira todos os dias.

“Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo.” (Romanos 7:15, 18b e 19).

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