por Luiz Henrique Matos
Estava pensando na minha filha ainda há pouco. Pela manhã eu olhei o tamanho que ela já está, os dois anos que passaram tão rápido e essas coisas de todo pai. A preocupação bateu quando tentei imaginar essa menininha já adulta, daqui alguns anos, construindo sua família e tudo mais.
E somado a isso, andei pensando também nessa coisa toda de aquecimento global, corrupção, violência, fome e pobreza. O mundo anda cada vez mais complicado. Parece-me que à medida que se amplia o acesso às informações sobre o caos em que estamos vivendo, cresce também a voracidade com que essa desigualdade se agrava.
E eu pensei na Nina outra vez. Que será do mundo quando ela já for adulta? Vai saber… Eu fico com um certo receio em pensar no tipo de prato que meus netos comerão à mesa, do ar que vão respirar, o tipo de proteção métodos de segurança que precisarão seguir antes de sair na rua. Tanta coisa.
Geralmente quando penso no legado que poderei deixar para meus filhos e netos, me vem à mente experiências, aventuras, princípios, erros e acertos que eu tanto gostaria de que se lembrassem. Penso também nos recursos materiais que me esforço para guardar e que poderão lhe garantir algum conforto. Mas esqueço do mundo.
Quer dizer, eu lembro de ensinar a Nina que ela precisa dividir seus brinquedos, ser “boazinha” e doar o que não usa. Eu procuro dar o exemplo fazendo alguma coisa. Mas é pouco, muito pouco.
O mundo, termo que generaliza pessoas – que é termo que generaliza o José, o Mohamed, o John, o Akira, o Makelele e cada ser humano que respira nesse planeta. Pois bem, o mundo precisa de algo mais de mim. Eu preciso fazer mais por ele, por todos.
Coisas simples. Se me foi dada uma condição de vida melhor que de meus semelhantes, então eu posso doar mais. Se eu aprendi a fazer algo que pode ajudar outros a se desenvolverem, então eu posso ensinar. Se… pois é, existem várias alternativas em minha mente, mas o gesto mais simples de estender a mão ao próximo é um passo que precisa ser dado. Como diz a sabedoria popular: comece limpando a sua calçada.
Sou cristão. Não digo isso porque acho que esse fato me garanta alguma condição especial. Pelo contrário, acho que minha crença me obriga a seguir um exemplo e alguns mandamentos a respeito de amor, generosidade, hospitalidade, doação, serviço, compaixão e entrega, que constam de forma enfática nos livros sagrados.
Há algum tempo, um amigo me falava sobre essa questão de plantar e colher. Está na Bíblia, mas é basicamente a velha regra natural da agricultura: o que você planta hoje, colhe amanhã. Às vezes o amanhã não é literal, às vezes quem vai colher o fruto dessa semente que lançamos não somos nós, mas outra pessoa, outra geração. Isso vale para gestos, coisas, investimentos – e plantas, evidentemente.
Até poucos meses, nosso mundo vinha passando por um período de bonança que há muito tempo não se via. Abundância de recursos, dinheiro, crédito, todo mundo esbanjando e aproveitando sua prosperidade. Tudo, segundo essa conversa com meu amigo, fruto de boas sementes plantadas lá atrás.
Pois é, mas acontece que nossa colheita também produz coisas. A maneira como arrancamos tais “frutos”, sem deixar a terra pronta para receber novas sementes, sem regar um pouco, pode impedir o novo plantio. Ficamos tão afobados em aproveitar a boa onda que deixamos de lado nossa obrigação em preservar para o futuro.
E a Nina, o que ela vai colher? Bom, tudo depende do que eu decidir plantar hoje.
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(crédito da foto: flickr de pictoscribe)
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