Jesus não tinha inimigos


por Luiz Henrique Matos

Quando ensinava nas sinagogas, pelos caminhos, pelas cidades ou à beira do mar, eles estavam ali. Sempre presentes, contrastavam com a multidão sedenta e admirada. Assistindo inconformados às manifestações e milagres, punham-se aqueles homens de roupas impecáveis, postura superior e a expressão fria da condenação nos olhos.

Eles o odiavam. Queriam entender as motivações por trás de tudo aquilo e revelar sua farsa. Queriam pegá-lo desprevenido, ter um motivo para expor sua fraqueza e a mentira de seu discurso. Mas nunca conseguiram.

Mas ele não, ele não os via como adversários. Jesus não tinha inimigos. Fariseus, escribas e sacerdotes não eram pedras em suas sandálias, atrapalhando a caminhada. Ao contrário, eles também eram o alvo de sua mensagem. Jesus os via como filhos que teimavam em não reconhecer suas próprias limitações.

Ele os conhecia, sabia quem eram, compreendia que seus corações estavam repletos de indagações a seu respeito. Eram como os tantos outros que o seguiam, mas ao ouvir sobre a graça, a esperança e o amor de Cristo, não podiam acreditar naquilo como verdade. Não era possível, isso contrariava toda a história e a base de suas crenças.

Jesus viveu por eles também. Ele sabia que não o aceitariam, mas ainda assim, ele os amou e consagrou-se por aqueles homens.

Envoltos pela superficialidade de seus cargos e posições, eles queriam calar-lhe a voz para que o “falso messias” não atrapalhasse seus costumes e tradições. Aquele Jesus, um incendiário social, precisava parar com seus milagres e o discurso que lhes tirava o domínio sobre o povo.

Eles o perseguiam. Eles o odiavam. Eles queriam entender. Tinham dúvidas. Tinham medo. Eles queriam matá-lo… Ele queria morrer por eles.

Eles desejavam tirar-lhe a vida, mas Jesus sonhava levá-los a viver uma nova vida ao seu lado.

E assim se cumpriu.

Na cruz, Jesus morreu pela humanidade toda. E ele morreu pelos fariseus que tramaram sua prisão, pelos sacerdotes judeus que lhe cuspiram no rosto, pelos guardas que o açoitaram, pela multidão que ainda há pouco o seguia fervorosa, mas que agora, com o mesmo fervor, o condenava aos brados: “crucifica!”.

E ainda ali, inabalável, ele amou.

“Porque Deus amou o mundo…” (João 3:16).

Amou porque essa era a sua condição, porque esse é o seu olhar pelos homens, esse era o presságio da história que ele já conhecia. Pendurado numa cruz, sangrando e ofegante, Deus não se ofendeu com os que lhe impuseram essa dor.

Não podemos saber o que lhe passou à mente. Nunca compreenderemos como é possível que isso tenha acontecido. Jamais seremos capazes de entregar nosso filho para morrer no lugar de pessoas que o perseguiram. Mas ao olhar seu gesto, pelo lampejo da história, pelo fato consumado, sabemos que esse amor nos comprou e que Deus, o próprio Criador, nos adotou como filhos.

Porque Deus não tem inimigos entre os homens. Ele não entra no campo de batalha para guerrear com sua criação. O Pai não olha nossas vestes, não se importa com nossa posição social ou opinião a seu respeito, porque isso não é condição para seu amor paterno e eterno. Nós somos o alvo do seu sacrifício.

“Deus nos amou primeiro.” (1 João 4:19).

Jesus ama os fariseus, os políticos, os ladrões, os ateus, as prostitutas, os publicanos, os pecadores, os discípulos, os traidores. Ele ama até os cristãos.

Deus não se importa com o que somos, ele se importa com quem somos. Ele não quer saber como estamos, ele quer que estejamos nele, guardados em seus braços, remidos por seu amor, lavados em sua pureza, atentos à sua voz, felizes, juntos, em Deus.

Nunca o entenderemos, não conseguimos racionalizar seu gesto, não sabemos como retribuir. Por isso, nos prostramos e adoramos.

“Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele.” (1 João 4:16).

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3 comentários sobre “Jesus não tinha inimigos

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