por Luiz Henrique Matos
Estava pensando nesses caras que amarram uns quilos de dinamite na barriga e, em nome de Alá, se explodem em algum local público e movimentado do mundo. Pensei em como isso algo totalmente possivel de fato, em como tanta gente acredita nesse tipo de absurdo.
Minha curiosidade passava por tentar entender em que momento exatamente um rapaz se convence de que a resposta para todas as coisas passa por apertar um botão e botar tudo pelos ares. A sua vida inclusive.
Minha outra curiosidade era tentar imaginar o tipo de deus em que um indivíduo acredita para chegar à conclusão genial de que ele se satisfaz com esse ódio todo. Que paz, afinal, pode coexistir com a guerra?
E então eu lembrei de um sujeito que eu conheci quando me converti. Um não, vários sujeitos. Pensando bem, igrejas inteiras. E acho que se eles tivessem nascido no Afeganistão, estariam hoje numa fila de voluntários talibãs para morrer em nome de sua fé.
Fé o escambau, essa gente se mata em nome do ódio. Deus, Alá ou seja lá quem for, é um pretexto para a amargura que os entorpece. Fariseus. Estão cegos e acham que podem conduzir alguém a algum lugar.
Se o Bin Laden fosse evangélico e vivesse no Brasil, acho que ele faria um baita sucesso. Com programas na tv, emissoras de rádio e mega cruzadas em praças públicas.
MST? Farc? Al-Qaeda? Que nada, nós teríamos os evangélicos-bomba. Fogo puro.
Eu juro que tenho medo.
Mas pior do que o absurdo desse extremo físico, eu acho que é o que já acontece por aqui. Os evangélicos bomba já estão entre nós. E eles matam silenciosamente. Com suas mensagens, com as pregações escabrosas e as bizarrices doutrinarias, nossos terroristas escravizam inocentes, manipulam vítimas emocionalmente feridas e, aos poucos, minam suas forças. Eles matam, milhares, todos os dias, com suas campanhas que prometem milagres e prosperidade instantâneas, com a culpa e o medo incutidos nas mentes que influenciam e se escondem atrás de um subterfúgio: o deus que professam, mas que contraditoriamente, existe para lhes servir em seus caprichos.
Eu tenho mesmo muito medo.
Tenho medo porque convivo com gente assim. Tenho medo porque, preciso confessar, eu mesmo já quase entrei na fila dos homens-bomba (duvida? Então dê uma olhada em alguns dos textos que escrevi há seis ou sete anos).
Mas eu temo, principalmente, por duas razões fundamentais. Temo pelas pessoas que morrem todos os dias, enganadas, acreditando num deus tão cruel. E temo – me apavoro – pelas pessoas, as que não caem na lorota dos terroristas, mas que acreditam que o cristianismo, no fim das contas, é o que esses bandidos pregam.
Mas há esperança, sempre há. Precisa. Porque em outros momentos da história em que ideologias parecidas ganharam espaço (vide os fariseus do primeiro século, as cruzadas na Idade Média, a inquisição da igreja romana…), Deus providenciou uma mudança de cenário. Não, ele não travou guerras. Ele também não dizimou os enganadores com raios ou enviou exércitos para a batalha – bom, tome cuidado você, se desejou que fosse assim. Deus não faz isso porque Deus não tem inimigos. Deus não fere, não mata, não condena. Deus é Pai, ele é amor.
E o amor é a sua espada, é seu argumento, seu único recurso, é a revolução pela qual escolhe salvar o mundo sempre que teimamos destruí-lo.
Por amor ele criou, viveu entre nós, perdoou, nos ama e procura. Com o amor, ele nos derrota. Amando incondicionalmente, o Pai nos constrange, nos faz cair de joelhos. E amados, nos rendemos, nos prostramos. E já não há outra saída.
O homem cujo coração se rende a Deus, passa a enxergar como ele. Odeia o que Deus odeia e ama o que ele ama.
Porque, pensando bem, não precisamos de algo pelo qual morrer. Precisamos de uma causa pela qual viver.
“Ame o outro como a si mesmo.” (Jesus)
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Esse texto faz parte da série “Correndo atrás do vento”. Leia mais:
1. A teologia não salva
2. Em defesa da crise
3. E o futuro, a quem pertence?
4. Pessoas mudam, o mundo muda (manifesto)
5. Os riscos da prosperidade
6. Clichês
7. Deus não tem um sonho pra você
8. Julgando um livro pela capa (e pessoas por sua opção religiosa)
9. Jesus não tinha inimigos
10. Um Deus, diversos cultos
11. Comodidade
12. Churrasco, futebol, igreja e uns quilos a mais
Ótimo Texto!
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Olá! Muito obrigado pela visita. Fico feliz em saber que gostou dos textos.
Abraço!
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