Passagem


por Luiz Henrique Matos

Tanta coisa pra fazer, tão pouco pra pensar. Ele pensava que gostaria de estar vivendo exatamente o contrário naqueles dias. Que falta fazia ter os dias livres.

Era o último dia da viagem, as últimas horas antes de embarcar, e um passeio no parque da cidade era uma forma bem convencional de se sentir um turista finalmente.

Queria que tudo pudesse ser simples de novo, que a quietude fosse outra vez reduto da imaginação, que a fantasia regesse a realidade.

No ponto mais alto do parque, ele escalou uma pequena elevação do gramado, de onde podia observar todo o pequeno lago que decorava a paisagem e em torno do qual uma família se divertia. Podia ver as árvores ainda secas do outono contornando as margens e emoldurando as alamedas, tinha toda a vista da cidade e, no fundo, sempre lá, como se observassem a vida aos seus pés, as montanhas. A neve repousando sobre os cumes, o céu deixando-se tocar.

De novo, desejou estar perto da família. Queria que estar perto de quem se ama pudesse ser tão somente estar perto.

As gaivotas começaram a se agitar e cantar no pequeno lago. Quietas, elas nem pareciam tantas, mas de um minuto para outro, a revoada de pássaros, centenas deles, estavam voando e voando em círculos e círculos, num caos frenético que durou cinco ou seis minutos, ou o dia todo. O som estridente e encantador, as gaivotas dançavam, cada uma a seu ritmo. Mas então elas se organizaram, baixaram o tom, enquadraram o ritmo, montaram posição e migraram para o norte.

Era hora de ir pra casa.

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