Aquela era a última casa antes do deserto estender-se quase infinito à frente. Por cinco ou dez minutos era só o que eu observava enquanto via passar o mundo em miniatura através da janela do avião.
Havia alguma cidade adiante, mas até que estivéssemos sobre ela, já vinha há quase uma hora notando a sombra da aeronave projetada no chão árido. Mas, à medida que a civilização surgia no horizonte, podia ver claramente a borda que separava o deserto de um muro. E projetando-se acima da altura do muro havia uma casa, isolada, longe um quilômetro ou mais dos primeiros vizinhos e cuja janela abria-se diante das centenas de quilômetros de terra seca e vegetação rasteira sem que houvesse nada adiante.
Em vão, tentei imaginar qual havia sido a última casa que avistei antes daquela paisagem começar tantos minutos antes. Quem seria, sabe lá, o vizinho de janela do menino que talvez habitasse aquele quarto e escrevia mensagens no vidro para alguém que um dia passasse por ali? Quem dormiria ali do outro lado se a terra pudesse ser magicamente dobrada, o deserto fosse sugado e as casas se emparelhassem de repente? Quem sabe, fosse esse o pensamento ocupando as noites solitárias de uma viúva que perdia o sono olhando o silêncio todo à sua frente e esperando que um dia um transeunte por ali passasse e notasse os vasos de flores que ela dispunha delicadas sobre o parapeito.
O avião aterrissou minutos depois e a história dormiu em minha mente por alguns meses até hoje cedo, quando estava na varanda do apartamento trocando alguns vasos de lugar.