Se um dia você estiver passando perto de uma ciclovia em São Paulo, notar um gordinho barbudo pedalando feliz, deslizando sua bicicleta pelas ruas e lhe ocorrer que ele se parece muito comigo, saiba que aquele não sou eu.
Sou, no entanto, o outro gordinho, 600 metros atrás, ofegante, suando bicas, arrastando uma bicicleta ciclovia acima (não importa que seja uma reta ou descida, a sensação é de que estou sempre subindo). Mas, sim, agora eu pedalo. E ainda que a expressão em meu rosto não demonstre, isso me deixa feliz.
Faz coisa de um ano e meio que a bicicleta se tornou meu principal meio de transporte na cidade. A contragosto, confesso. Antes de adotá-la, tentei inúmeras rotas dirigindo por vias alternativas e testando a capacidade criativa do Waze, tentei andar de ônibus, trem, combinações de carro, ônibus e trem. Mas nada me fez conseguir chegar no trabalho em menos de uma hora. Até que me convenci de que poderia tentar pedalar.
Eu não pedalava desde a adolescência, quando fiquei grande demais para a Caloi Cross azul que herdei do meu irmão e não fiz o upgrade natural para uma Caloi 10. O tempo passou, perdi o interesse, comprei um carro e depois outro e ficava parado em congestionamentos por aí observando ciclistas imunes às filas intermináveis de carros e, apesar de alguma inveja, sentia que jamais poderia adotar aquela coisa juvenil como meio de transporte.
(… continua no Estadão)