#1
– De onde você é? – perguntou o motorista quando entrei no táxi.
– Sou do Brasil. E você?
– I’m from India. Mas já vivo aqui em Nova York há mais de 10 anos.
Passava das onze da noite, eu voltava de um jantar para o hotel e, depois de um dia inteiro trabalhando, só queria um banho quente e uma cama. Mas, nunca resisto à tentação de dar corda em conversas com pessoas de lugares diferentes de onde vivo.
– Você conhece o Brasil? – emendei.
E para minha surpresa, ele respondeu que sim.
– Sim, conheço. Já fui muito ao Brasil.
– Rapaz, sério? – okay, eu não disse “rapaz” em inglês – que cidade você conheceu?
– Ah, algumas. Eu trabalhava em uma empresa de engenharia aeroespacial. Ainda sou da área. Trabalho como motorista para complementar minha renda. Conheço São Paulo, Rio de Janeiro, já fui à Bahia…
– Que interessante. E o que você mais gostou de lá?
– Oh man, eu adoro o Brasil. Na verdade, acho seu país muito parecido com o meu. As pessoas são calorosas e a comida tem um tempero parecido também.
Eu ia discordar, mas como nunca estive na Índia, fiquei quieto. E ele, cada vez mais empolgado, continuou:
– Mas o que eu mais gostava no Brasil era uma bebida a base de cana. Eu bebia um copo de meio litro todos os dias.
“Cachaceiro”, pensei, “desse jeito não é difícil confundir pastelzinho com samosa”. Mas resolvi conferir:
– Meio litro de cachaça? Really?
– Não! Cachaça, não. Era outra bebida. Queria muito lembrar o nome. Eles fazem na rua, com um motor. Pegam a cana inteira e moem ali mesmo na sua frente. E aí sai um suco que misturam com limão, com abacaxi, côco.
– Garapa?
– Isso! Isso! Garapa! Oh my God, I love garapa!
(…continua lá no Estadão)