Teologia na estante

por Luiz Henrique Matos

Hoje, eu mexia lá na minha estante de livros à procura de alguma inspiração para a próxima leitura. Mas, estranhamente, nenhum daqueles na prateleira dos “cristãos” parecia me interessar (isso porque, para facilitar minhas decisões, procuro ler o primeiro capítulo de cada livro que compro ou ganho para definir a sequência certa das próximas leituras – é, também acho que tenho TOC).

A verdade é que já faz um tempo que perdi o interesse por esses debates teológicos e as correntes de pensamento do cristianismo (já falei disso antes – aqui). Ao menos por um tempo, não quero ler o que esses caras pensam sobre Deus e as coisas da igreja. Não estou interessado em defesas de tese e outras questões periféricas da fé.

Mas sinto a necessidade, cada vez maior, de conhecer a Deus. Quero amá-lo e cumprir cada sonho seu que arde em meu peito, quero me apaixonar pelo que faz com que seus olhos brilhem e travar a mais cruel das batalhas contra o que lhe desperta ira. E acho que isso passa por aprender a amar as pessoas.

Eu preciso aprender a amar o meu semelhante – e acho que esse é o foco da vida no momento. Sem as teorias de sempre, de um jeito sincero e real. Quero viver a minha espiritualidade de um jeito mais simples e essencial. E quero ler a Bíblia a partir da ótica dessa nova experiência. Não ao pé da letra, como fiz na maior parte do tempo, mas com o encanto das histórias de homens e mulheres, imperfeitos, inconstantes, mas santificados pelo mesmo Deus que me resgatou.

Então, parei de novo diante da estante e saquei um romance que aguardava empoeirado na prateleira de cima.

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Clichês

por Luiz Henrique Matos

Clichês. Algumas pessoas vivem em clichês, como se a vida fosse a letra de um pagode. Outras, são tocadas por eles e acreditam em frases prontas como guias para suas vidas, como se apresentações em PowerPoint fossem escrituras sagradas. Tem gente também que simplesmente não liga e passa pelos dias, livros, filmes e canções simplesmente sem notá-los. E a essa gente do meio, todos chamam de frios, tanto os pagodeiros de uma ponta quanto os outros, na ponta oposta da balança, que odeiam os clichês, que se arrepiam com uma citação óbvia, que fingem nem pensar assim de vez em quando, que preferem fazer de conta que nunca viram um capítulo da novela das oito ou que não se encantaram, lá na adolescência, com uma banda juvenil.

Mas o fato inegável e irrefutável é que sendo ou não algo tão obvio e simplório, a vida tem das coisas simples e das eruditas. Tem, no fundo no fundo, o sentimento comum de cada homem por aquilo que não se explica, pelos gestos instintivos e primitivos dos quais não podemos fugir e precisamos admitir que, sim, que toda mulher se arruma para encontrar o grande amor, se deslumbra com algum perfume, seja qual for, que se derrete ao receber uma flor. E que todo homem se impõe, se faz diferente e imponente para conquistar sua amada – ainda que sua imponência seja, no fim, não mostrar alguma sequer –, se orgulha dos bons amigos que ostenta, que precisa de algo pelo qual torcer e vibrar.

Não dá pra negar que todos temos um romance pelo qual choramos, um filme que sempre lembramos, uma canção para os momentos especiais. É fato incontestável que todo mundo se deslumbra diante da beleza natural do mundo, que quer um dia fazer alguma coisa pra mudar o rumo, que acha que noutros tempos as coisas eram melhores do que são agora.

Nas diferenças de estilos ou costumes, somos na essência iguais, ligados por esse sentimento semelhante – mas nos apegamos às mínimas diferenças para não admitir que somos tão parecidos. Todos temos, de alguma forma, o medo da morte, o sonho da vida abundante, a busca pela felicidade, a satisfação pacífica da alegria. Todos apelamos na hora da dor. Todos nós, cada um dos seres humanos, se rende e renuncia diante do amor.

É fato que todo homem precisa de Deus. Mas alguns vivem isso como se fosse a letra de um salmo em levada de samba, outros acreditam e se guiam pelas páginas do livro sagrado, tem gente que passa simplesmente sem pensar no assunto, ignorando o fato, as canções, o romance. E a essa gente do meio todos chamam de frios e insensíveis, tanto os crentes de uma ponta quanto os outros, no lado oposto da balança, que acham que isso tudo é clichê.