Páscoa – O mergulho nas profundezas

O homem observa o céu a procura de Deus. Mas não o encontra. Ele procura no extremo, sonda o sobrenatural, arrisca-se nas mais grandiosas e místicas experiências, mas nem ali está Deus.

O homem perde-se em seus caminhos. Preso em um buraco, chega a cavar para tentar sair. Ele vaga, tolo, sobrevive, está sujo e fraco. Tenta encontrar, mas já nem sabe o quê.

Deus é um menino pobre.

No resgate da humanidade, Deus se embrenhou na escuridão. Por amor ao mundo, deu. Fez-se homem, na condição do homem e, como homem, libertou o homem.

Ele mergulhou nas profundezas, desceu no vazio da alma, na consciência perdida, na vastidão sem sentido. E acendeu uma luz, tomou o homem pela mão, lavou sua sujeira, o guiou pelo caminho.

Jesus resgatou o homem. O Deus homem é o homem perfeito. Com sua vida, revelou salvação. Com sua mensagem revelou propósito, com seus gestos revelou caráter, com seu serviço revelou um exemplo, com sua cruz deu redenção e, ressuscitando, a vida toda sem fim. Jesus Cristo revela o amor do Pai.

O novo homem observa Jesus à procura de Deus. E lá está. O homem contempla o céu.

“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito , para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele.” (João 3:16-17)

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Livres da irrelevância

“Em um mundo em que 840 milhões de pessoas irão para a cama com fome nesta noite por falta de condições financeiras para fazer uma refeição, em um mundo em que 1 milhão de pessoas cometem suicídio todos os anos.

Jesus quer salvar nossa igreja do exílio da irrelevância.

Se tivermos quaisquer recursos, qualquer poder, qualquer voz, qualquer influência, qualquer energia, devemos convertê-los em bênção para quem não tem nenhum poder, nenhuma voz, nenhuma influência.”

(Rob Bell, em Jesus quer salvar os cristãos)

O semblante

Brasilia

Há uma mensagem entalhada na cruz; há um eco no túmulo vazio.

Somos pessoas remidas, somos seres eternos. Ao crermos em Jesus, em sua mensagem e na ressurreição, recebemos por antecipação a dádiva da eternidade. Somos salvos, isentos de culpa, somos amados e livres para ser e amar. A consciência disso deveria naturalmente transformar nosso semblante e inspirar nossa maneira de viver integralmente. Deveríamos ser mais gratos, mais afetuosos, caridosos, servis, menos egoístas. Deveríamos refletir o caráter gracioso de Jesus Cristo no mundo em cada fôlego de vida. Porque Deus, o dono do Universo, o criador de todas as coisas, o Pai, nos ama, habita em nós e nos chama de filhos.

Mas a obscuridade do mundo nos desvia o olhar. Deixamo-nos dispersar e perder a rota. Somos afetados pelas circunstâncias, pelas sombras que se projetam sobre nossas almas, pela dúvida que paira no canto do ouvido, pelo pecado que nos isola. Permitimos que a soma dos fatos cotidianos nos disperse. Os erros, nossos e dos outros, as notícias do cotidiano, da política, de guerras, um funk tocando alto, um cadarço desamarrado, uma discussão em casa, um pastor corrupto em evidência, uma tempestade que surge sem avisar. E tudo isso é tão pequeno, é fugaz, mas deixamos que questões superficiais, efêmeras e passageiras nos desviem da rota e afetem nosso senso sobre a realidade.

E a realidade não é, absolutamente, o que se passa sob nosso olhar inquieto. A realidade suprema, devastadora e pungente, é a eternidade, a paz, o amor transcendente da graça divina nos tomando nos braços para sempre.

Vocês afirmam ter um Salvador. Por que não parecem salvos?

Mais de cem anos atrás, o filósofo ateu Friedrich Nietzche censurou um grupo de cristãos com as seguintes palavras: “Eca! Vocês me enojam!”. Quando o porta-voz dos cristãos perguntou por que, Nietzche respondeu: “Porque vocês, remidos, não parecem remidos. São tão cheios de temor, tão dominados pela culpa, tão ansiosos, tão confusos e tão sem direção quanto eu. Mas eu posso ser assim. Eu não creio. Não tenho nada sobre o que lançar a minha esperança. Mas vocês afirmam ter um Salvador. Por que não parecem salvos?”

– Brennan Manning, em Convite à solitude (p. 26)

Considerações sobre céu e inferno

Fico pensando se Deus, no último dia, resolvesse nos julgar pela nossa capacidade de demonstrar amor ao próximo. Se no fim das contas, a distinção entre homens bons e maus fosse tão simples quanto avaliar nossa atitude em relação às pessoas que passam pela vida da gente e que tiveram fome, sede, estiveram doentes, presas ou necessitadas de alguma forma.

Fico pensando que se as coisas fossem por aí, então o diabo já deveria começar as obras de ampliação nas instalações do inferno.

Fico pensando na passagem de Mateus 25:31-46 e um certo arrepio me sobe pela espinha.

-LHM